DROGAS E ALCOOLISMO NÃO É MODA! MAS, TAMBÉM NÃO É MOTIVO DE VERGONHA!
Com o crescente e dinâmico avanço do “Mal do Século XXI”, o uso de drogas e alcoolismo, infelizmente, daqui a alguns anos de cada dez pessoas, dez terão conhecido ou convivido com um usuário de drogas ou alcoólatra.
Raios de Sol
Um estudo da experiência do atendimento de grupo de familiares de usuários de drogas.
A idéia deste trabalho surgiu das inquietudes da vivencia profissional como
assistente social. A pergunta, como lidar com o usuário de drogas está presente nas diversas
áreas de atuação, seja no atendimento social, em reuniões clínicas de equipe, em
encaminhamentos, orientações, consultorias e capacitações. Não são apenas pessoas que se
relacionam diretamente com o usuário de drogas que tem esta indagação, profissionais de
diversos seguimentos também encontram dificuldades no trato com o dependente químico.
Desafiador é formular a resposta. A formação de conhecimento linear exige uma resposta
objetiva e resolutiva, ou seja, uma fórmula a ser seguida.
Júnia Teixeira da Costa
Veja um resumo do estudo e pesquisa de Junia Teixeira Costa com famílias de dependentes químicos e alcoólatras que buscaram ajuda na Associação Brasileira Comunitária e de Pais para Prevenção do Abuso de Drogas/ABRAÇO para enfrentarem os impactos do uso de substâncias psicoativas e o tratamento do usuário.
A Associação ABRAÇO é usada como referência em virtude de ser a fonte dos estudos da Pesquisadora Junia. No entanto, existem incontáveis locais e meios onde quem precise ou tenha interessa para que se possa buscar informações e ajuda. Em último caso é sempre recomendável que, na falta de opção competente, se busque informações em Postos de Saúde, Secretaria de Saúde de sua cidade, Polícia Militar, Bombeiros, Policia Civil, Guarda Civil Municipal ou Metropolitana; entidades governamentais que poderiam orientar e encaminhar quem precise e queira realmente ajuda.
As famílias que participaram deste grupo buscaram ajuda na Associação Brasileira
Comunitária e de Pais para Prevenção do Abuso de Drogas/ABRAÇO para enfrentarem os
impactos do uso de substâncias psicoativas e o tratamento do usuário. O processo iniciou com o contato da família, pessoalmente e/ou por telefone, agendando a primeira entrevista com a assistente social onde foi feito o convite para participar do grupo. As reuniões do grupo ocorreram semanalmente sendo um total de seis encontros. A participação nas reuniões e atividades propostas foi voluntária. Assim foi trabalhada a complexidade das relações enfocando (valorizando) as vivências dos participantes onde o profissional se colocou numa postura do “não saber” exercendo o papel de coordenador das discussões. O grupo co-construindo uma nova visão do problema criando estratégias de mudanças de melhoria das relações familiares/sociais. A proposta respeitou as demandas das famílias tendo uma atenção ao demandante. As reflexões do trabalho foram flexíveis, seguindo os temas relacionados aos problemas trazidos pelos participantes.
Veja a transcrição do resultado no quadro abaixo, vale ressaltar que foi feita a cópia
do que estava escrito no papel, tal qual o depoimento dos participantes, não havendo correção do português.
Quadro das expectativas e avaliações feitas pelos participantes do grupo de familiares de
usuários de álcool e drogas/ ABRAÇO 2006
FAMILIAR | Expectativas | Avaliações |
1 | “Espero que vocês mim ajude a lidar com esta situação e mim oriente porque eu não sei mais o que fazer.” | “Para mim foi um grupo rico. Eu aprendi a lidar com a droga. O que falar na hora certa. O que fazer e também como poder ajuda meu filho. Sinto mais forte e confiante mais segura. Tive várias experiências, aprendi coisas grandiosas e valorosas com o grupo. Só tenho que agradecer por esta porta que me foi aberta na hora certa, foi tudo que eu precisava no momento de angustia e fraqueza.”
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2 | “Que o filho pare de usar drogas.” | “Eu agradeço a atenção dispensada a minha pessoa, gostei de ter participado das reuniões mas, não foi o que eu esperava da instituição, pois esperava muito mais a minha expectativa é muito maior eu creio que saí quase que da mesma forma que entrei, desculpe a sinceridade, agradeço.”
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3 | “ como lidar com o dependente químico”
| “Eu não achei “me encontrei”. Aprendi como lidar com as dificuldades do meu irmão e ver que o problema que eu passo não sou a única a passar, de certa forma existem famílias com problemas, semelhantes e até piores que o meu. Aprendi a me posicionar diante das dificuldades que ele me causa em resumo estou mais tranqüila e sabendo mais a respeito dos meus limites das obrigações dele, isto não só com ele ( meu irmão ) mas até com as outras pessoas e inclusive com meus filhos. Obrigado a Abraço e o meu abraço as pessoas que com carinho me acolheu.”
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4 | “Espero ajuda no sentido de me fortalecer para ajudar meu filho a se encontrar, a se estruturar para abandonar seus vícios e o grupo de amigos em que ele se encontra inserido atualmente. Preciso me sentir segura do que falar, de como agir, de como me aproximar deste filho que tanto amo.”
| “Quando procurei a ABRAÇO, eu esperava encontrar fórmulas para resolver os problemas do meu filho. Acabei descobrindo que estas fórmulas prontas não existem. O que existe é um reconstruir das relações, consegui me fortalecer, ainda estou no processo de fortalecimento. Consegui sair um pouco do problema, pensar em mim. Estou estudando novamente, estou enxergando minhas outras filhas meu marido... e as coisas começaram a acontecer ( as coisas boas, a aproximação mais saudável). Apesar de me sentir ainda insegura em certas atitudes, estou mais aliviada. Estou aprendendo a respeitar”
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5 | “Só teremos condições de ajudar alguém, se tivermos condições de avaliarmos a proporções do problema que a pessoa a ser ajudada está enfrentando, para isso temos que fortalecermos antes de partir para a tarefa de ajudar uma pessoa que está necessitada de ajuda. Ajudem, mas usem o coração”
| “O resultado foi muito compensador, quando procurei a ABRAÇO por intermédio de minha esposa, achava que estava já preparado para ajudar minha filha, estava enganado, com o decorrer dos encontros, vi muitos depoimentos de casos de usuários e dependentes de drogas muito mais avançado, e pude ver o sofrimento de cada um, isso me fortaleceu; e ajudará nas minhas tarefas futuras que irei enfrentar daqui pra frente. A coordenadora Júnia foi muito de acordo com as situações individuais de cada um, ao meu ver teremos uma nova vida daqui pra frente e temos condições de estar ajudando nossos filhos e outras pessoas.”
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6 | Aprender a lidar com o usuário
| “Eu busquei ajuda porquê estava sentindo mal em todas áreas deprimida, cativa, e como escrava de todos em minha casa. Mas, encontrei a ABRAÇO e pessoas capacitadas que veio revolucionou minha vida, me fez conhecer melhor e a enxergar o outro todo. Estou muito fortalecida, feliz e certa que daqui para frente serei outra. Foi muito bom, acho que deveria continuar. Gostei da turma e a assistente é 100% boa. Amei.”
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Refletindo
No espaço de conversação foi possível perceber os impactos nas relações familiares
causados pelo uso de substâncias psicoativas por um de seus membros. A descrição das
expectativas dos seis familiares observados remete a um processo de vivencias, o qual, de alguma forma cega os sujeitos dificultando o reconhecimento de estratégias alternativas.
Diante das expectativas dos familiares, fica evidente a formação do conhecimento
pautado na ciência linear, estática e objetiva que visa o controle pelo determinismo. É
possível distinguir o sentimento de busca de uma solução, de uma fórmula pronta para
resolver os problemas. As expectativas de como lidar com o dependente químico(Familiar,6)
ou que o filho pare de usar drogas(Familiar,2) ilustra um déficit de criatividade ao depositar o poder de solução em uma instituição.
Os familiares depositam na instituição e no profissional o poder de previsibilidade e
controle da situação. Vale ressaltar que ¨[...] o alcoolismo está inevitavelmente arraigado na rede de interações familiares. Essas interações incluem tanto comunicações abertas e impactos diretos como processos dinâmicos de grande sutileza" (GRIFFTH, 1987, p. 51), isto vem sendo observado também em famílias de usuários de outras drogas. Considerando a família fator de risco e de proteção para o uso de álcool/drogas, torna-se necessário incluí-la nas ações de trato desta questão. É importante lembrar que não é de competência única, mas de integração de uma rede de competências e estratégias para lidar com o uso de álcool/drogas.
Retomando as observações, aparecem sentimentos de frustração por não ter
conseguido resolver o problema quando um familiar diz que não sabe mais o que
fazer(Familiar,1). Por outro lado, surge nuances de culpa, de se auto-responsabilizam pelo uso
de álcool/drogas do ente querido. Um dos familiares coloca ¨preciso me sentir segura do que
falar, de como agir, de como me aproximar deste filho que tanto amo¨ (Familiar,4), mostrando
uma espécie de punição/obrigação por ter cometido um delito. A punição da culpa é retratada
na expectativa do familiar adquirir o poder de solucionar uma questão complexa e processual.
O sentimento aqui é de dar conta disto pois é sua obrigação por ter errado em algum momento
da vivencia familiar.
Faz-se necessário pontuar que a família de usuários de álcool/drogas passa por um
dose de estresse, comprometendo a integridade física e mental de seus membros. Isso foi
apontado nas expectativas dos familiares 1 e 5 respectivamente: ¨[...] eu não sei mais o que
fazer.¨; ¨[...] para isso temos que fortalecermos antes de partir para a tarefa de ajudar uma
pessoa que está necessitada de ajuda.¨ Mostra sentimentos de exaustão de tentativas
inconsistentes como dito na avaliação do familiar 6: “Eu busquei ajuda porquê estava
sentindo mal em todas áreas deprimida, cativa, e como escrava de todos em minha casa[..]¨.
No espaço de conversação o profissional coordena as falas se colocando na posição
de não saber, dando poder às vivências dos familiares. O poder circula no processo de coconstrução
de alternativas, desenvolvendo o potencial criativo dos participantes através de perguntas reflexivas.
REFERÊNCIAS E FONTES:
Júnia Teixeira da Costa – Assistente Social, Mestranda de Psicologia PUC/MG, Especialização em Atendimento a Dependência Química
PUC/MG – IEC; Especialização em Atendimento Sistêmico à Família, PUC/MG-IEC; Especialização em Administração de Recursos
Humanos - UNA/CEPEDERH-BH/MG.
GRIFFITH, Edward. O Tratamento do Alcoolismo. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
Associação Brasileira Comunitária de Pais para Prevenção ao Abuso de Drogas -ABRAÇO - Campo Grande / MS
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